quinta-feira, 8 de julho de 2010

A U R N A

Cavalguei muitos dias, muitos mundos, muitas gentes. Vi tudo o que um homem pode ver. Senti todos os odores, saboreei todos os sabores, olhei todas as coisas. Abracei todos os momentos. Dormi todos os sonos e sonhei todos os sonhos. Amei muitos amores, nas minhas passagens pelo tempo.

Nasci dono de uma URNA; de cristal. Do mais fino cristal, abrigando dentro de si, o maior de meus tesouros. Não conheço sua origem, apenas sei que a tenho, que me pertence. O continente tem de diâmetro, 18 cm., de base, 22 cm, de altura, 30 cm. O conteúdo pode ser liquido, pó, substancia volátil ou matéria concreta.

Seu exterior é da cor violeta. Tem ao longo de sua altura, pequenos filetes dourados, podendo ser ouro. A base é grande para garantir sustentabilidade, apoio e serve também como elemento decorativo.

Nas minhas passagens pelos becos do mundo, desfrutei varias paixões, pequenos amores, deixei muitos adeuses e lamentei tantas partidas. Chorei a urgência, resignei-me com as estadas, parti para novas experiências. Rasguei os lados ruins da vida, ouvindo o lamento da seda sendo separada de sua banda.

Guardei sempre, com muito zelo, a minha urna, junto ao meu coração. Nunca a mostrei para ninguém. Esperava o momento certo, onde encontraria a pessoa escolhida por Deus. Não podia jogar, como um estróina o faria, no primeiro córrego de águas cristalinas e enganadoras, na esperança de vir a sorver daquele liquido, admitindo ter encontrado o meu caminho d’água. Ainda não havia recebido Dele o sinal de aprovação. Guardei a urna, assim como guardei a mim mesmo.

Um dia surgiu! Na forma de pergaminho, com letras gravadas a cinzel. Abrolhou a palavra de Deus, escrita pela mulher que iria ser, para todo o resto de minha existência, o chamamento para minha, para nossa consagração.

Minha urna estava intacta, inteira, lacrada, ungida, benzida por Deus e pela Virgem Maria. Dentro dela eu guardei até aquele momento o

“MEU AMOR POR DEA.

Anchieta

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