sábado, 7 de agosto de 2010

O BAILE... QUE SAUDADE! ! !

Foi ontem à noite na nossa pequena cidade interiorana. Toda a sociedade presente; de longe ouvia-se o “fru-fru” dos vestidos de seda sendo desfilados no salão brilhante. Nenhuma fisionomia sisuda; o sorriso era a senha para entrar no “CLUB”. É verdade que vi alguns homens bocejando, contudo, perfeitamente desculpável, considerando que todos trabalham com denodo. As mulheres não bocejam porque elas gostam mesmo é de aparecerem lindas e maravilhosas, causando inveja às suas grandes amigas da mesa vizinha. O bocejo chega na goela da festeira, e mais que de pronto, ela engole com lagrimas e tudo e ainda manda um sorriso por cima, para disfarçar.

A orquestra era de uma sonoridade inquietante, um deleite para os ouvidos acostumados com poluição sonora. Os que praticam o silencio, o melhor é não sair de casa. O Maestro muito competente não deixava ninguém esperando a próxima musica para sair dançando. Todos os ritmos com pancada forte e bem marcados. Até mesmo os sonolentos, saltitavam na pista de dança. É que o som era contagiante. Beleza pura!!!

Enxerguei algumas figuras exóticas:

Um magrinho, ele o cavalheiro, abraçado a uma dama um pouquinho rechonchuda, rodopiava no salão, qual pião atirado ao solo por menino levado. Ele com uma vestimenta que me pareceu farda de militar imitando folhagem. Um tênis reforçado completava seu traje de gala. Este nosso amigo, o “Fuzileiro Naval” ou “Boina Verde”, (não pude definir) usava o braço de sua dançarina para esconder-se atrás, como se fosse sua trincheira avançada. Só conseguíamos ver os olhos perscrutadores. O casal avançava pelo piso brilhante à procura dos inimigos escondidos sob a luz esfuziante do Baile de Gala. As perninhas magrinhas daquele dançarino, rodopiavam como uma carrapeta azeitada, insinuando-se entre as pernas de sua bailarina, com movimentos, ora circulatórios, ora num vai e vem, como um discurso direto, via coxas, provocando calafrios próximos ao orgasmo. Esperava ver, a qualquer momento, um dos dois, ou mesmo os dois, caírem no chão, estrebuchando de prazer. Isto em plena festa, um espetáculo digno de admiração.Não gozaram... que pena... seria para dizer:

_Mãe! ”Nóis tá na fita”

Havia uma loira, creio que quarentona, com tanta tintura nos sofridos cabelos, que um olhar atento, enxergaria o “código de barras” do produto usado. É certo que sua cabeleira estava um pouco espetada, mas para um baile daquela magnitude, qualquer coisa vale. O seu par escondia-se por trás daquela montanha balançante, quje brilhava como filão de ouro ao sol, nos garimpos de Roraima. Para a diversão e entretenimento, tudo é válido.

O casal que mais chamou a atenção de quantos ali estavam, era baixinho, não que isto seja um defeito, contudo, ela usando uma “super mini-saia”, mostrando suas vigorosas coxas, como se fora duas colunas de Hercules, no estreito de Gibraltar. Todos olhávamos para aquelas pernas descobertas, principalmente quando o parceiro juntava a incauta pela cintura, para ela não perder o ritmo. Éramos obrigados a ver se insinuando sua “protuberancia bundal”, com a beira da calcinha debruada em organza, com rosas vermelhas, bordadas e cintilantes. Uma graça de ver...O marido, talvez, as vezes exagerava suas acrobacias, fazendo a dama errar o passo. Ah! Meu Deus do céu, pra que ele faz uma coisa dessas? Ela, cinquentona, queimada do sol abrasador da lide na lavoura, jogava fogo pelas ventas, qual dragão vermelho. Que espetáculo fervente desfrutamos todos nós, que só observávamos.

O casal se nos aproximou com cara de intimidade e ele foi logo dizendo:

_Vocês dançam muito bem! Estive observando...

E ela mais que ligeiro, falou:

_Nós dançamos juntos há mais de trinta anos! Que nota vocês nos dão?

Só podia dar “DEZ”. Não que eu seja jurado de televisão, mas não podia esfriar o entusiasmo da furibunda, sob pena de tomar um safanão no meio da cara. Eu heim!!! Pra que correr riscos desnecessários?

Um outro casal, no mínimo, fora de época, dançava loucamente e vestido como se fora “hippie” , com tiras de pano (estopa de sacaria) enrolando o corpo; uma coisa indistinta, dirigia-se para a cabeça, à guisa de lenço, touca com flores brilhantes de lantejoulas e outros adereços decorativos. Nos pés dela notava-se uma coisa, assemelhando-se a sandália romana, confeccionada com “raspa de couro” envolvendo-os até acima do tornozelo e amarrada com tiras de couro. Devido á dança frenética, o cordão amarrando o couro, soltava-se constantemente, obrigando o cavalheiro, gentilmente, ajoelhar-se aos pés da dama para reiniciar a operação “amarra sandálias romanas”. Ela, uma verdadeira Imperatriz Romana, com o queixo empinado, olhava por sobre a plebe rude, seus fieis vassalos, esperando o reinicio de seu bamboleio, ao som de “Guantanamera”. Com um sorriso nos olhos e um ósculo nos lábios, toda a pantomima preenchendo o palco das vaidades, solicitava as atenções da platéia.

Vi também um filhote de anão, com cara de “pit-bul” faminto. Furibundo com seu minúsculo elemento vivencial, descontava nas pernas... explico: nunca vi um pequenininho dançar tão bem. Um clone de “Fred Astair”; sem a grana do americano. Foi quem mais se divertiu, isto porque, como é diminuto, qualquer porção, por menor que seja, logo atende suas necessidades. Para continente reduzido, bastam apenas algumas gotas...

Os garçons, um capitulo à parte. Gordos, magros, retilíneos, de todos os calibres e ainda curvados sob o peso da bandeja, não precisaram ser subornados; atendiam com presteza e eficiência. As salvas passavam repletas de cerveja, vinho e uísque. Um verdadeiro festim...

Um deles, parecendo lutador de “sumô”, com seus 130 quilos andava com passos miúdos, lépido e fagueiro, carregando uma bandeja cheia de quitutes. Não derramar nem uma gota do refrigerante era um verdadeiro milagre.

Outro, certamente, praticante de “vale tudo”, apresentava-se quadrado como um guarda-roupa, forte como um touro e de bandejinha na mão, rodopiava entre as mesas, sem derrubar nenhuma. Uma gracinha...

O terceiro, “Lord inglês” ereto como um poste, com meneios suspeitos, sussurrava nos ouvidos dos clientes, sem que ninguém entendesse nada, pois o som da orquestra estava a um milhão de decibéis. O povo balançava a cabeça, como se estivesse de acordo, sem que, no entanto houvesse ouvido o que falara o garçon com corpo de bengala. Soube de um cliente que queria comer tira-gosto de filé com batata frita e recebeu um tremendo abacaxi fatiado. Comeu, fazer o quê? Era festa...

Lá “pras” tantas, os casais, já etilisados, “soltaram a franga”, ou seja, liberaram-se, esbaldaram-se. Não que o palco tenha se transformado no “Clube das Chaves”, porém, no dia seguinte, todos rezingavam de tanto contorcionismo. O álcool vem pregando peças há milhares de anos, e o “capeta” louco de contente...

A ORQUESTRA” – Maravilhosa; com todos os instrumentos havidos e por haver; sax, clarinete, trompete com surdina, trombone de vara, .triângulo e o indispensável teclado. Todos estes músicos e um “batera” exaltado.

Em seguida apresentou-se um “TENOR”, (maiúsculo mesmo, para fazer jus ao seu desempenho) Ricardo Farias, de Recife, espetacular. Que voz!!! Que pulmão... embora nunca tenha visto dele uma “abreugrafia” (isto é mais antigo que caminhar em pé) . Plácido Domingos fica a dever frente ao nosso nordestino chilreador. O homem tem um vozeirão que retumba no Himalaia, provocando avalanches... (parece que está um pouco exagerado, mas tudo bem...).

Depois de ouvirmos lindas áreas, chegou a vez de “ADILSON RAMOS” – a patativa do agreste. O cara com setenta anos de idade, deixou-me com a maior inveja de seu preparo físico. Não parou de cantar e saltar naquele palco que tremia com seus exercícios. Encantou a platéia que acompanhava cantando com ele todas as músicas. Um verdadeiro “SHOW MAN”. Foi com ele que a moçada se soltou, cantando, dançando e aplaudindo ao mesmo tempo; uma verdadeira loucura de entusiasmo, de orgia saudável. Com Adilson Ramos chegamos ao ápice da festa, da irreverência, da soltura dos espíritos, esquecendo as agruras do dia a dia. Foi maravilhoso. Quero ir a outra festa destas...

Assim, pois, tivemos uma noite de sábado deslumbrante, dançante e alegre. Bebemos vinho, comemos moderadamente e nos divertimos como há muito não nos cabia. O casal que nos convidou, como sempre, uma simpatia; dois jovens nubentes cuidando de nós, como cuidariam de seus pais. Atenciosos e zelosos com os dois velhinhos sapecas. Uma família de prole numerosa, constituída, principalmente, por mulheres, tendo apenas a presença de um homem; minto: dois homens, pois, recentemente, foi encontrado um outro irmão que andava extraviado, pelas bandas do Recife. Parece que é produto de contrabando do patriarca. Não liga, não! Isto acontece até nas melhores família de Londres. O fato é que minha amiga protetora perdeu o “Cetro” de caçula da família. O paraguayo,digo, o extraviado é o novo caçula, sem cetro mesmo, já que homem ganha cetro quando nasce. Dançamos tudo o que nossos fôlegos nos permitiram.. Hoje minhas panturrilhas me mandam para aquele lugar...

Minha “DEUSA” está na salmoura desde que chegamos em casa. Amanhã será outro dia...

Anchieta Antunes

Gravatá – 1º/8/10.

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