sábado, 3 de julho de 2010

UM PONTO NO SOLO E UMA PEDRA LANÇADA

Assim começa a peleja, depois dos vibrantes e sonoros “HINOS NACIONAIS”. Um olho no arco adversário e o outro na conta bancaria. Vamos suar as camisetas, afinal não somos nós que as lavamos! Temos que justificar nossa presença nesta arena repleta de sofredores entusiastas e esperançosos. Se der para ganhar, ótimo, se não, nossos contratos já estão firmados.

Milhões ou bilhões foram acarreados na preparação dos espetáculos. Nós somos “o espetáculo”... Muitos trabalhadores foram felizes por um ou dois anos, durante as construções. O leite dos meninos estava garantido... O sorriso bailava em cada expressão. A população negra juntou-se à branca em jubiloso congraçamento. Todos os atos de bondade e coragem são admitidos.

Mandela reviveu e a cada dia ficava mais jovem. Morreu a neta..ah! era apenas uma neta... A imprensa tinha a obrigação de notificar. Notificou...vamos ao que interessa, ou seja o vil metal. Tem muito do nosso tempo, esforço, tecnologia e - PATROCINADORES – em jogo. O jogo jogado no gramado é apenas o engodo da paixão.

Os corações latejam em cada peito, a expectativa libera o fausto, a magnificência transita pelas esquinas do opulento espetáculo coletivo. Festa, festa, festa... Não há razão para mal humor ou pessimismo. A bebida está liberada, a comida, idem, os hotéis luxuosos esmeram-se no atendimento. Sim! É a preço de ouro, mas pra que fazer economia neste momento de euforia? Depois do ultimo silvo, vamos esperar mais quatro anos; de economia, de preparação, de roupas esdrúxulas, de mascaras bizarras; é a ocasião propicia para nos expormos, mostrarmos quem somos por dentro, porque por fora é apenas a casca, a armadura do dia a dia.

A televisão, o radio, revistas, periódicos, construtoras, multinacionais, as grandes marcas e “grifes famosas” - todos saem ganhando, até mesmo o pobre trabalhador. Se o sarau é universal, por que não usufruí-lo? Se é um momento surreal, dele temos que participar, marcar nossa presença, deixar assinalada nossa personalidade, apontar no solo estrangeiro nossas pegadas, como que dizendo, “estive aqui” e participei de todo o evento.

O ganhador não se restringe ao único que levanta a ‘TAÇA”. Todos são vitoriosos, exuberantes e satisfeitos pela participação no lance da CATEDRAL das vaidades afloradas, sob o sol ameno, do clima fresco de ventos ondulantes. As cabeleiras louras, negras e brancas espargem seus fluidos viscerais, impregnando a todos que por ali vagueiam. Passa a existir uma fraternidade momentânea que nivela até mesmo os mais desprotegidos.

A festa ecumênica onde se adora uma bola que tem vida própria e os pés dos contendores. O bezerro de ouro que os impacientes moldaram para suprir a falta de um DEUS presente para ser adorado.

Depois, naquele país distante para nós, o quadro é revertido para a solidão, para o desconforto do trabalho escravo, para o esquecimento dos promotores da salada de idiomas e opiniões. Cai a noite e os refletores não se acendem nos estádios soturnos, porque não há mais espetáculo nem motivo de ganância.

Quem ganhou, ganhou, quem perdeu, também ganhou. Todos ganharam; até o esquecimento, porque outras batalhas precisam ser montadas para gáudio dos organizadores da arena dos gladiadores.

Foi lindo, maravilhoso, espetacular, magnificente, exultante, alegre e triste, só dependendo da nação de origem.

Que venham mais COPAS – mais trabalho, mais entusiasmo, alegria e o leite dos meninos.

Anchieta

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