sábado, 4 de setembro de 2010

DESBRAVANDO O HORIZONTE DESDE O ARRUADO

Gravatá-11-01-08



DESBRAVANDO O HORIZONTE

DESDE O ARRUADO

Vocês, meus avôs querem por que querem que eu conheça o mundo, sem nem mesmo considerar a minha pouca idade. Todos os dias levam-me a passear pela cidade de Gravatá, para que conheça todas as ruas e praças da nossa comunidade.
Tem um certo encanto... porque todos os povoados do agreste ou sertão nordestino, guardaram a inocência dos tempos em que o transporte mais rápido era o cavalo. Meu avô diz que era a época em que o vaqueiro queria ir até o aglomerado de casas mais próximo para tomar uma cachaça e levar dois dedos de prosa com o compadre que mora na ponta da rua. O chão era de barro ou areia, porque o calçamento é coisa da capital que está a vinte léguas “de beiço” de onde vivem.
A notícia mais fresca e disputada nesta região que visitamos com meus avôs é o nascimento do filho de Maria Rosa, “La Belle de Jour”. Maria Rosa, a cabocla mais desejada e invejada daquelas bandas. A natureza foi mãe e não madrasta com ela, pois desfila um corpo torneado cor de jambo com cabelos longos e lisos e com a fragrância inebriante de “Leite de Coco”-ao dizer de meu avô. Tem os olhos negros e amendoados guarnecidos pelas sobrancelhas grossas da cor do azeviche. Tem a testa alta, condizente com a inteligência de que desfruta e usa, para se dar bem na vida. Não é mulher de trabalhar em lavoura e sim de ler revistas como “O Cruzeiro” e a “Manchete”. É mulher que tem leitura.
É ela a porta-voz do vilarejo, a que está encarregada de divulgar todas as fofocas do que acontece lá fora, neste mundão de Deus.
Está casada com João Nepomuceno, proprietário de um sítio nos arredores do arruado. No seu sítio o João planta de tudo para abastecer a sua mesa farta e para negociar nas feiras do sábado. O casal é tido como o mais abastado da região, contando com uma boa carroça, uma bicicleta, e mais uma charrete para Maria Rosa desfilar sua beleza nos domingos quando o Padre aparece para confessar e rezar a missa.
Depois do resguardo de três meses, ela vai poder mostrar a todas as amigas e conhecidos o seu lindo filho Ambrósio, um verdadeiro troféu. O orgulho do casal que nasceu com cinco quilos e medindo cinqüenta e três centímetros. Um verdadeiro “touro” como diz o pai vaidoso. Quando crescer vai ser Prefeito!
Assim vive este povoado com seus altos e baixos, com chuvas e secas, mas sempre com um sorriso estampado no rosto. Todos riem da própria carência de tudo...
-Deus há de melhorar - dizem...
Assim é, pois meus avôs querem que eu conheça todos e tudo a respeito desta gente que é minha gente.
Aqui nasci e vou me criar, do mesmo jeito que minha mãe fez em sua vida.
Não posso dizer que não gosto desta fase de minha existência, mas certamente não é o eu que quero para minha idade adulta. Tenho melhores planos. Pretendo viajar muito e conhecer, de fato, o mundo lá fora, onde as coisas acontecem. Gosto dos passeios de carro com meu avô dirigindo bem devagarzinho para que eu possa enxergar tudo que vai passando pela janela do carro, como se fosse uma televisão ou janela de trem. Muitas vezes adormeço no colo macio de minha “nona”. Minha vó conversa muito comigo para que eu aprenda logo a falar e dizer tudo que tenho vontade e direito.
Assim vão transcorrendo os meus dias. Quando não, viajo com meus pais para a capital do Estado. Naquela cidade imensa nós vamos as lojas e restaurantes e também a parques. É muito divertido. Também é muito cansativo.
Continuo simpática e sorridente, conquistando a tantos quantos se aproximam de mim.
Brinco bem com bolas e bonecas. Durmo bem. Como bem. Que mais quero nesta minha vida de bebê linda e adorada? Só continuar contando minhas histórias. Estou com um ano e três meses de idade (só para que tomem conhecimento).
Um beijão bem grande para todos.

Letícia Victória.

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