sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Roda da Vida


Por Anchieta Antunes

Na verdade são duas rodas, girando no mesmo sentido, produzindo harmonia. Girando para cima. Fabricando cada dia de nossa vida. Uma engrenagem simples de montar; é o que imagino como foi para o ENGENHEIRO do tempo.

A primeira, a da esquerda, com sua extremidade em material resistente e largo; algo como aço, titânio ou fé. Essa chapa com varias cavas de tamanhos variados para acolher os dentes de sua vizinha. Esta primeira, apesar de “esquerda” é passiva e tem a cor nebulosa da esperança.

A segunda, à direita, gera a energia necessária a todo movimento. É ativa e determinante. Na sua extremidade uma chapa dentada com vários tamanhos e dimensões de dentes ou espetos. Grandes, médios e pequenos. A finalidade de tantas protuberâncias? Os acontecimentos diários de cada ser humano. Aqueles dentinhos penetrando nos minúsculos encaixes geram o trabalho diário, pequenos aborrecimentos, encontros amorosos passageiros, arrufos com o sexo oposto e tantas outras obstruções cotidianas.

As grandes decisões estão entalhadas nos ressaltos dignificantes do acontecimento que está para acontecer. Quantidade imensurável de pinos ativos, penetrando nas fendas da roda passiva da vida. Alguns pinos enormes, assustadores. Não há como escapar; vem inexoravelmente disposto a penetrar, e penetra com a obstinação da teimosia. Como dói! Machuca! Humilha! Rasga o espírito, fratura a vontade de continuar seguindo em frente, pressagiando a próxima estocada. Ficamos com os olhos aflitos, como os dos touros, mirando a espada do algoz vindo em sua direção, denunciando a morte iminente. É triste!!! Fende toda nossa estrutura, e é irrevogável e irretratável.

Ao cotidiano, até podemos atribuir valor poético, místico, vivencial. São os pequenos tijolos dispostos à edificação da grande obra material, carnal, solúvel no acido do “infinito, enquanto dure” como diria Vinicius de Morais.

No saber aceitar o monumento dos desafios, sem pejo, reside a grandeza do sábio, do lucubrador incansável que vê nas adversidades, a mesma simplicidade do ato de andar de bicicleta, dispondo apenas de uma das pernas; sei que é uma cena terrível, porém, acontece mais vezes do que podemos imaginar. Sofrer para aprender, infelizmente é um lugar comum, contudo, verdadeiro.

Todas estas dificuldades e atribulações formam a roda da vida, núcleo indispensável, enquanto em pé na crosta terrestre. Podemos tornar esta caudalosa torrente de infortúnios, em lago manso com o concurso da sabedoria. Fácil não é ! impossível, também não!!! Caráter e determinação são as ferramentas necessárias à consecução do escopo.

Muitas vezes basta abrimos a janela para enxergar o horizonte límpido e brilhante acenando nossa felicidade, como se fora um passe de bonde. Quando nos encerramos dentro de nós mesmos, fechamos todas as aberturas para o sol nascente.

Temos a faculdade de girar a engrenagem para atender nossos caprichos. Se a giramos muito rápido, corremos o risco de o eixo central entrar em calor excessivo e partir-se. Com lerdeza perdemos a paisagem, quase estática, do trem em movimento. O bom senso há que prevalecer em todos os movimentos e ações, conferindo temperança, sagacidade e juízo formado. Devemos ser vigilantes em todos os momentos, como o são os cães de guarda.

Sentemo-nos no trono da generosidade e solidariedade… para alcançar a paz de espírito.

Anchieta Antunes é Escritor e membro da ALAOMPE

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